quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

JORNAL AVANTE

                          



  • Aurélio Santos         

  
                  
As «virtudes» das privatizações
Quanto em 1989 o Governo de Cavaco Silva deu início à privatização da Banca, os argumentos aduzidos foram os que hoje se invocam para privatizar tudo o que é público: «O Estado é mau gestor, não tem vocação para gerir, o sector privado é mais dinâmico, bla, bla, bla.».
Em 2008 apresentaram-nos a factura das ditas virtudes dessas privatizações. Os contribuintes europeus viram desviados mais de quatro biliões (triliões americanos) dos seus impostos para salvar os bancos que em nome da «transparência» continuam a cartelizar taxas e comissões, e agem como verdadeiros agiotas. E apesar de parte do empréstimo da troika, pelo qual nos são exigidos sacrifícios antes inimagináveis, ter ido para a Banca, os empresários queixam-se que essa mesma banca não está a financiar a economia.
A bem da verdade é preciso esclarecer que os prejuízos que os bancos hoje apresentam resultam das imparidades existentes e que, para não assustar muito, foram em parte escondidas em 2008. A conversa que recentemente veio a público sobre este assunto entre dois banqueiros irlandeses é bem elucidativa.
Depois em nome das «virtudes» da concorrência privatizaram as petrolíferas e o sector energético. O resultado é conhecido: os combustíveis custam em Portugal (sem impostos) mais três a quatro cêntimos do que a média europeia.
No sector energético é ainda pior. Ocupamos um honroso 2.º lugar na Europa no preço do gás e um 3.º no preço da electricidade. Nos últimos dez anos fomos o país que sofreu maior aumento de preços da energia (40%) e descaradamente ainda nos dizem que temos um défice tarifário de milhões. Os fabulosos lucros que a EDP apresenta advêm sobretudo do mercado interno.
A sanha privatizadora não pára. Agora foram os CTT. Empresa lucrativa, a actuar sem concorrência, e que prestava indiscutivelmente um bom serviço ao País. Esqueceu-se o Governo de dizer quanto vamos pagar aos CTT privados de indemnizações compensatórias pelos serviços públicos que esta empresa presta.
A avaliar pelo que tem acontecido não tarda que estejamos com os serviços postais mais caros da Europa.
Assim vai este canto do mundo cada vez mais mal governado.

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